quinta-feira, 24 de julho de 2014

Cidade do Cairo, Egito

A nossa viagem para o Egito aconteceu num período de tensão política, pois a Irmandade Muçulmana tinha sido recentemente declarada “Grupo Terrorista” e eles ficaram mais irados ainda. Muitos conflitos vinham acontecendo quase que diariamente, resultando em muitos mortos. Estávamos hospedados ao sul da Península do Sinai, numa cidade chamada Sharm el Sheikh, um reduto turístico e geograficamente distante da área de tensão.

Mas como ir para o Egito e não conhecer a cidade do Cairo e as Pirâmides?

A Cidade do Cairo é a atual capital do Egito, mas antes outras cidades como Menfis, Tebas, Alexandria, Al Fustat  tiveram este título.

De Sharm el Sheikh até a Cidade do Cairo, capital do Egito, são mais de 500 km e nossa ideia inicial seria fazer esse trajeto por terra, numa excursão de um dia, que partia de noite e regressava na outra noite. Mas acompanhando os acontecimentos, ficamos apreensivos. Enviei um e-mail para a Embaixada Brasileira do Cairo, para saber se era seguro fazermos esta viagem e obtive a resposta de que “por terra” não era muito recomendado naquele momento, mas por avião não estava havendo problemas relacionados com turistas.

Lembrei daquele incidente em 2012, quando um ônibus com vários turistas foi atacado por beduínos e duas brasileiras foram levadas reféns. O Itamaraty teve que intervir e graças a Deus tudo acabou bem, mas fico imaginando o susto deles. O objetivo dos beduínos neste tipo de ação é usar os turistas como moeda de troca com outros prisioneiros.

A agência que estava organizando nossos passeios também recomendou que fôssemos de avião e então decidimos dessa forma.

Saímos do Hotel em Sharm el Sheikh por volta das 05:00 da manhã do dia 28/01/2014 e nosso voo da Egyptair partiu às 06:45.


Todo o trajeto foi voando sobre as montanhas do deserto do Sinai e após cerca de uma hora chegamos.






No aeroporto, uma guia já nos aguardava. Uma jovem senhora muito simpática, que falava um espanhol bem fácil de entender. De início já notamos que era uma pessoa muito culta e com um conhecimento vastíssimo.

Fomos para a Van e começamos a ouvir as explicações. Iniciaríamos nosso passeio  pelo importante Museu Egípcio do Cairo e durante todo o trajeto, deu pra ver muita coisa. 


Passamos por vários bairros egípcios e constatamos a infinidade de mesquitas que tem naquela cidade, que segundo nossa guia, passa de 5000, somente no Cairo e imediações. 

Passamos em frente a um cemitério que é enorme e por causa de problemas de habitação, passou a ser invadido e habitado pelos vivos. É a maior necrópole do mundo e mais de 500.000 pessoas vivem nesse cemitério, mais gente do que muitas cidades do Brasil. As pessoas moram nos mausoléus feitos para colocar os mortos, dividindo assim espaço com os defuntos. Quando morre algum familiar do dono do mausoléu, ele precisa "pedir licença" para os moradores invasores para assim fazer o sepultamento.

Já a região central da Cidade do Cairo, é bem antiga  e os prédios velhos e mal conservados. Até parece um pouco com a região central de São Paulo, naquelas ruas próximas à Praça da Sé, mas lá ainda é um pouco pior. O que é bem parecido com São  Paulo é o trânsito. Terrível como o daqui.

Ao chegarmos próximo ao Museu Egípcio do Cairo, já sentimos o clima de tensão. A área estava repleta de tanques de guerra, com dezenas de soldados armados com fuzis a postos.

No Museu Egípcio não é permitido entrar com câmeras fotográficas ou filmadoras, pois é proibido qualquer tipo de foto ou filmagem. Recebemos aparelhos de rádios e fones de ouvido para ouvirmos as explicações valiosíssimas da nossa guia.

E quanto aprendemos naquele passeio!! Ficamos deslumbrados ao conhecer a riquíssima cultura egípcia, que tem mais de 6000 anos de história.

No período pré-dinástico ( 3200 a.C.) , existiam 2 reinos: Alto Egito, ao sul e Baixo Egito, ao norte e foi no período dinástico que esses dois reinos foram unificamos e a monarquia centralizada em Faraó, sendo Menés o primeiro.

No período do antigo Império (3200 a 2300 a.C.), a capital do Egito era Menfis e foi neste período que foram construídas as grande pirâmides de Gizé, que falarei em outra postagem.

Vários impérios já dominaram o Egito, sendo os mais importantes os Persas em 343 a.C., os Romanos em 30 a.C. e os árabes, que após a  morte do profeta Maomé no ano 632, iniciaram uma rápida expansão e no final do ano 641  todo o Egito estava em suas mãos. Foi após esse período que o Egito se converte ao Islã e adotaram a língua árabe como oficial.

O Império Otomano dominou o Egito entre os anos 1517 a 1798 e ao fim deste período, o país estava fraco e a França e a Inglaterra já estavam de olho na região. Foi em 1798 que Napoleão Bonaparte invadiu o país, para abalar o comércio inglês na região, mas pouco tempo depois foram expulsos pelos otomanos e também pelos ingleses.

Em 1805, Mehenet Ali, um soldado albanês toma o poder e declara-se “senhor” do Egito. O país estava cada vez mais fraco e dependente da Europa e em 1874, para pagar dívidas, concedeu à Grã-Bretanha todas as ações do Canal de Suez, construído em parceria com os franceses entre os anos de 1860 – 1870, para possibilitar a ligação do Mar Mediterrâneo ao Golfo de Suez e Mar Vermelho, permitindo uma via navegável até o Oceano Índico, que antes disso, para navegar da Europa à Asia era necessário contornar a África através do Cabo da Boa Esperança.

Durante todo o século XX, o país passou por altos e baixos. No anos de 1990, movimentos fundamentalistas islâmicos se organizaram e o país foi palco de ações terroristas. Em 1991, se alinhou com o ocidente na guerra do Golfo contra o Iraque.

No dia 25/01/2011 foi o ápice da grande manifestação para a derrubada de Hosni Mubarak, que foi pressionado a renunciar no dia 11 de fevereiro do mesmo ano, após 30 anos no poder.

Morsi foi eleito democraticamente no dia 30/06/2012, com 51,73 % dos votos, mas tornou-se impopular após ações contra o exército. Morsi, primeiro governante da Irmandade Muçulmana, foi um grande fracasso político segundo analistas. No dia 03/06/2013 foi deposto pelo exército e um mês depois colocaram em seu lugar Adli Mansour, presidente interino.

Em janeiro de 2014, foi esse o cenário que encontramos no Egito. Dezenas de atentados e centenas ou até milhares de pessoas mortas devido ações terroristas. A Irmandade Muçulmana estava “irada” com a perda do poder e segundo analistas, o país estava  muito próximo de uma guerra civil.

Enquanto estivemos no Egito, conversamos com várias pessoas, como garçons, guias, comerciantes, etc , perguntando se eles preferiam Mubarak ou Morsi e a resposta unânime foi a favor dos militares, o ditador Mubarak.

Passamos pelas máquinas de raio X e entramos no  Museu Egípcio do Cairo, que conta com 100 salas de exposição, distribuídas em dois pisos. É a maior coleção de arte faraônica do mundo, incluindo a coleção funerária de Tutankhamon, papiros, manuscritos, embarcações de madeira que transportavam os mortos, sarcófagos,  esculturas, etc

O ponto alto, sem dúvida, foi ver a coleção de Tutankhamon, que são seus tesouros artísticos encontrados em seus túmulos no Vale dos Reis. A máscara que cobriu seu rosto quando da sua morte é de ouro maciço. Havia também coleções de jóias, artefatos, roupas, objetos diversos.

Imagina só um rei levar para um túmulo tanta riqueza... Era praxe naquela época, só que todas as sepulturas de todos os outros reis / Faraós foram saqueadas ao longo dos séculos e a única encontrada intacta foi a de Tutankhamon e ainda bem, pois hoje temos a chance de “comprovar” uma coisa tão surreal como essa, de levar para o túmulo tantos tesouros.

Os egípcios tinham uma forma peculiar de acreditar na morte, que para eles era o início de uma grande viagem para o próximo mundo e as sepulturas deveriam armazenar diversos itens que poderiam precisar nessa vida após a morte. Os corpos eram embalsamados com técnicas bastante avançadas e até hoje, muitas múmias resistem a ação do tempo e estão a disposição para nos contar histórias. Essa forma de pensar dos egípcios era bem diferente dos israelitas, pois em Eclesiastes 9:5 Salomão já dizia "...os mortos não sabem de coisa nenhuma.."e eu também creio desta forma.

Nem preciso dizer que o passeio foi incrível e os meninos também adoraram. Ficaram super atentos às explicações da guia, e aproveitaram bem aquele momento.

Durante nossa visita ao Museu, nossa guia recebeu um telefonema em seu celular e sentimos certa apreensão enquanto conversava ao telefone em árabe. Claro que não entendemos nada, pois somente no fim do dia ficaríamos sabendo que aconteceu um atentado  numa localidade próximo às pirâmides, que seria nosso outro destino naquele dia. O general  Mohammed Said, diretor do escritório técnico do Ministério do Interior foi morto com armas automáticas numa importante avenida.  

Ao sair do Museu, avistamos um prédio incendiado bem ao lado... Ficamos sabendo que ali era a sede do partido do ditador Mubarak, que deixou o poder na Revolução de 2011.Fico imaginando o risco que correu o Museu, com um prédio em chamas bem do seu lado!! Acho que isso explica porque uma segurança tão forte naquela área.

Após o almoço, fomos visitar uma fábrica de papiros,  que produz-se a partir de uma planta chamada “papyrus” e os antigos usavam para escrever.


Tivemos a oportunidade de ver a fabricação artesanal desse tipo de papel a partir da planta e é muito interessante, pois desde 2500 a.C. que os egípcios desenvolveram essa técnica. Usa-se a parte interna, branca e esponjosa, do caule da planta, cortado em finas tiras que são posteriormente molhadas, sobrepostas e cruzadas, para depois serem prensadas. A folha obtida é martelada, alisada e colada ao lado de outras folhas para formar uma longa fita que é depois enrolada e então se torna um papel muito forte e resistente... 


Atualmente, a finalidade dos papiros é para decoração e eu inclusive comprei alguns, que vou colocar num quadro e guardar com muito carinho. Neste da foto ao lado, os nomes da minha família estão em escrita hieroglífica. O Vitor fez questão de incluir o nome da Lana, nossa cachorra, pois claro que ela também é da família.





Ao fim da tarde, visitamos também uma fábrica de perfumes. Os egípcios reclamam para si a origem do perfume, que teria acontecido por volta de 2000 a.C. e os primeiros clientes foram os Faraós e os membros importantes da corte. Perfume geralmente é a mistura de óleos essenciais aromáticos, álcool e água, mas os perfumes egípcios não levam álcool na sua composição. Pelo menos é o que eles dizem e para comprovar, alguns vendedores usam um isqueiro para demonstrar que não “inflama” em contato com o fogo.

Tanto no Cairo como em Sharm el Sheikh há muitas lojas de perfumes e os preços são bem em conta. Eles ficam em grandes potes de vidro e são vendidos a “granel” e você escolhe o tamanho do vidro. Eu comprei alguns e diferente dos perfumes tradicionais, os perfumes egípcios são bem concentrados, resultando num liquido viscoso e meio oleoso. As fragrâncias são as mais variadas, tendo também imitações de fragrâncias famosas como "Five Secrets" da Chanel, "Omar el Sherif" da Armani, "Angel" de Thierry Mugler, entre outros. Mas duas das mais tradicionais e genuinamente egípcias são as “papyrus flower” e “lotus flower”, que comprei para sentir os "cheiros" do Egito antigo.

Nosso dia pelo Cairo também incluiu um passeio de barco pelo Rio Nilo e claro, a visita às Pirâmides, que relatarei nas próximas postagens.



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