O Vitor havia realizado a ressonância magnética dia 25/10/07 e o resultado sairia uma semana após. Antes que o resultado saísse, ligaram pra nós dizendo que o exame precisaria ser refeito, pra que as imagens fossem complementadas... Achamos super estranho... Por que complementar imagens? Só que havia o mesmo problema: era necessário novamente sedação e não havia horário para a próxima semana com o médico anestesiologista... Marquei então um outro dia, pra tentar fazer o exame sem sedação. Ele deveria ficar imóvel durante todo o período do exame, que não é pequeno... Até que ele conseguiu ficar bem quietinho... Mas o fato dele “engolir a saliva” ou mexer os olhos já atrapalhava... aí a técnica tentava novamente e as imagens não ficaram boas. Deveríamos repetir o exame pela terceira vez!. Aproveitei e pedi pra conversar com o médico radiologista. Perguntei qual era o problema com o Vitor... A solicitação da médica neurologista era para checar possível alteração na parte frontal, nos hemisférios cerebrais. Na hora de realizar o exame, o radiologista notou alguma coisa diferente na fossa posterior, tronco cerebral, próximo ao cerebelo. Deus interveio novamente: o tronco cerebral não era área a ser analisada no exame ...Naquele momento, o médico me fez um monte de perguntas: “Seu filho tem episódios de vômitos? Tem dor de cabeça? Tem dificuldade de equilíbrio?” Fiquei assustada e disse que não e perguntei o porque daquelas perguntas... Ele disse que os exames “acusavam” uma alteração próximo ao cerebelo, mas que eles estavam confirmando. Que tipo de alteração? Ele não me respondeu... Ficamos preocupados e um novo exame foi agendado para próximo do Natal. Pedi urgência e por causa de uma desistência, conseguimos para o dia 29/11/07. O exame foi realizado neste dia, com sedação e tudo.
Deveríamos buscar o resultado na próxima quinta, dia 06/12/07. Mas no dia 30/11, um dia após a realização do exame, ligaram do laboratório dizendo que o resultado já estava pronto e que seria interessante buscar pra se possível mostrar para a médica neuropediatra que estava atendendo naquele dia, no prédio ao lado do laboratório. Meu marido, que atendeu a ligação, achou super estranho. Era uma sexta-feira e estávamos numa correria só. Meu marido me ligou falando acerca do telefonema do laboratório, mas que iria buscar o exame somente na segunda, pois não teria tempo. Eu insisti que ele fosse ao laboratório naquele mesmo dia... Nesse interin, fui a um outro laboratório buscar o resultado do segundo eletroencefalograma que o Vitor havia feito. Abri o exame de eletroencefalograma e respirei aliviada, pois mostrava que o Vitor sofria de “epilepsia rolântica”, uma forma de epilepsia benigna.
O laudo do eletroencefalograma dizia:
"Realizado em boas condições técnicas durante o sono induzido.
O traçado contém elementos próprios do sono.
Durante o traçado foram encontradas descargas rolânticas (frustras) à esquerda.
A fotoestimulação intermitente e a hiperpnéia não trouxeram novos dados.
Conclusão: Exame de EEG com foco temporal médio-esquerdo (rolântico).
Comentário: O foco rolântico é o mais comum na infância, e muitas vezes não é acompanhado de manifestações clínicas (sendo apenas um marcador genético). Quando associado clinicamente a epilepsia (rolântica) tem prognóstico de benignidade em cerca de 96 a 97% dos casos. O estudo de prognóstico é melhor analisado com EEG quantitativo (mapeamento cerebral) para estudo do dipolo rolântico e análise do paroxismo (Wong 1987, 1990, 1992 – Gotman 1992)
*Comparado a exame anterior de 23/04/2007 que apresentava descargas rolânticas esquerdas ora direitas."
Pensei: Ufa! Não é nada grave! Quando fui buscar o Vitor na escola, encontrei com a coordenadora Beth e disse que havia acabado de pegar o resultado do eletroencefagrama e que acusava “eplepsia”. Eu estava aliviada com aquele resultado... temia que o Vitor tivesse alguma doença degenerativa no cérebro... Jamais pensava na hipótese de um tumor...
Enquanto isto, meu marido se encaminhava para o laboratório pra buscar o resultado da ressonância magnética... Eu achava que o resultado da ressonância mostraria com mais detalhes o problema descoberto no eletroencefalorama, a Eplepsia Rolântica...
Meu marido chegou ao laboratório no final da tarde, pegou o envelope do exame e foi ao prédio ao lado, que era o local que a neuropediatra atendia, só que ela havia acabado de ir embora... Fazer o que? Esperar até o próximo dia de consulta? Foi então que ele resolveu abrir o envelope do exame e achou super estranho pois eram mencionadas medidas...
Quando chegou em casa, li o laudo que dizia o seguinte:
“Realizadas sequências ponderadas predominantemente em T1 e T2, com aquisições multiplanares e sequências em T1 após a injeção do contraste paramagnético (godolíneo).
- Lesão expansiva predominantemente cística no aspecto dorso-lateral direito do bulbo (tronco cerebral), medindo aproximadamente 2,0 X 1,7 X 1,2 cm (L X AP X T). destaca-se pequena área nodular da lesão à direita com acentuado hipersinal em T1 e hipossinal em T2, podendo corresponder a foco hemorrágico. Não houve realce da lesão pelo meio de contraste.
- A lesão comprime o farame de Luschka direito e o recesso inferior do IV ventrículo, que está deslocado para a esquerda, causando dilatação do restante do IV ventrículo à montante. O sistema ventricular supratentorial está preservado.
- A cisterna magna ampla de contornos arredondados com adelgaçamento da tábua interna da calota craniana, admitindo diagnóstico diferencial entre megacisterna magna e cisto de aracnóide.
-Demais cisternas e sulcos corticais adequados para a faixa etária.
- Restante das estruturas encefálicas apresentam morfologia, posicionamento, dimensões e intensidade de sinal conservados, sem realces anômalos.
- Ausência de coleções extra-axiais
Conclusão: Lesão expansiva e predominantemente cística no bulbo cerebral à direita com foco hemorrágico, comprimindo o recesso inferior do IV ventrículo e o forame de Luschka, com dilatação à montante do IV ventrículo. Dentre as hipóteses considerar a de astrocitoma de baixo grau."
Assinado por: Marcio Ricardo Taveira Garcia
Não entendemos direito o que estava escrito, mas por ter “medidas”, boa coisa não era... Jamais imaginávamos que fosse um tumor, pois no laudo não aparecia a palavra “tumor” ou “câncer”...
Peguei o laudo e fui para o computador. Digitei o termo “astrocitoma de baixo grau” e o que apareceu foi avassalador... Nosso mundo caiu. Ficamos desesperados. Eu e meu marido sentamos no chão e choramos...
Enquanto isto, o Vitor brincava com os irmãos, como se não estivesse acontecendo nada... Liguei pra minha irmã... Dentro de instantes ela estava aqui, juntamente com minha mãe, meu irmão, minha cunhada, meu sobrinho. O que fizemos foi orar. orar e orar. Nos abraçamos e choramos juntos... Não sabíamos que atitude tomar... Lembrei que tinha uma amiga que era instrumentadora cirúrgica de uma equipe de neurocirurgia. Liguei pra ela, li o laudo e ela disse que ligaria para o neurocirurgião. Dentro de minutos retornou a ligação, dizendo que o neurocirurgião havia recomendado irmos imediatamente para um hospital, pois a maior gravidade estava no termo “Foco hemorrágico”. No dia seguinte pela manhã, haveria o batismo dos meus filhos Bruno e Davi... O que fazer?
Oramos a Deus e resolvemos aguardar até o dia seguinte...
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